sábado, 25 de abril de 2009

Parte II - Sensações e Olhares



ஜॐ♥ C ♥ॐஜ


Daquele almoço em diante ele sempre achava uma maneira de surpreendê-la. Ela achava aqueles pequenos gestos muito excitantes. Um café, um almoço, um drink depois do expediente. Coisas de um conquistador? Sim! Mas em uma conquista paciente, diária, daquelas que fazem valer a pena levantar pela manhã, pensando no que vestir. Se o cabelo está bom, se o perfume está no ponto. Daquelas conquistas charmosas que tornam qualquer olhar, qualquer bilhete, qualquer desculpa para pegar na mão algo inexplicavelmente prazeroso.

Era, com certeza, um desejo mútuo crescente. Uma vontade partilhada de sentir-se atraído e desejado. Esse capricho contínuo de medir a capacidade do outro de se fazer perceber, querer, desejar.

O corte de cabelo dele, a saia um pouco mais curta dela, o bilhete com um horário para o café no meio da tarde, a blusa de seda sem o blazer, uma ligação despropositada para perguntar como estava sendo aquela manhã chata de chuva, o batom novo, impossível de não ser percebido ao conversarem mais de perto! Pequenos e grandes detalhes para os olhos de ambos. Um jogo? Quem sabe. Uma “disputa” de quem faz mais charme? Bem provável. Sedução? Com toda a certeza!

As semanas passavam apressadamente, pois ambos tinham uma pressa imensa que as noites chegassem ao fim, para que no outro dia recomeçasse aquela sedutora e agradável conquista. Já os fins de semana arrastavam-se, e ambos sentiam que o desejo pendia a tornar aquele jogo de charme um tanto mais sério.

Aquele fim de semana, em especial, tinha arrastado-se ainda mais. Ele viajara na sexta. Despediram-se com um telefonema. Na segunda-feira, ele atrasou-se um pouco. Trânsito terrível, contratempos. Não a viu. Era estranho, há semanas faziam aquele percurso juntos. Viagem cansativa, chegara cansado e ainda assim tentara ir no mesmo horário pro escritório. Não deu sorte. Foi pra sua sala com o propósito de ligar pra ela. Para sua surpresa encontrou um pequeno envelope deixado pela secretária sobre a sua mesa. Uma entrega de um boy ali mesmo do prédio. Seus olhos sorriam. Abriu-o e achou um bilhete breve: Pensei em você! E um número de celular.

Teve um ímpeto de ligar na mesma hora. Mas sabia que não faria aquilo. Não daquela forma. Se era pra medir forças, ao menos um pouco mais, esperaria. Não ligou. Pediu almoço e comeu no escritório mesmo. Sorria molecamente entre as garfadas. Pequenos sacrifícios para uma boa conquista. Ela impaciente. Ele momentaneamente vitorioso. No final da tarde a ligação.

O coração dela parecia que estava prestes a sair pela boca. Respirou... atendeu! A voz dele parecia um balsamo naquele dia atípico. Ele desculpou-se. O dia havia sido de intenso trabalho, não tivera tempo nem de sair pra almoçar. E pra que ela o pudesse perdoar, o convite pra jantar.

O primeiro desejo dela foi agradecer gentilmente e recusar. Quem sabe um outro compromisso, um outro convite. Aceitou. Mesmo sendo segunda. Foi um jantar tranqüilo. Riram, o que faziam com freqüência. Despediram-se.

Seguiu-se a rotina no dia seguinte, que inciara-se com um ‘bom dia’ como torpedo no celular dela, e um sorriso singular para os olhos dele. Conversinha animada de elevador na hora da saída. Despedidas sem muita vontade de ser despedida e um abrupto ‘tchau’ que frustrava o pedido seguinte dele de jantar ao lado dela.

Um sorrisinho formou-se nos lábios dela, que caminhava adiante dele e sentia os olhos dele acompanhando-a ainda meio atordoado. “Touchè”, pensou ela. E saiu rindo daquela situação.

Os dias seguiram animados... com batons, perfumes, bilhetes e cafés. Até que na sexta à tardinha veio o convite dele: E se aproveitassem o feriado prolongado da semana seguinte pra viajar?

Era ali que finalmente tudo se delineava. Mesmo assim ele percebeu surpresa nos olhos dela. Ambos sabiam o que isso queria dizer. Sabiam para onde aquela proposta os levava. Sabiam o tamanho do desejo que se encontrava implícito nesse convite. O ápice de toda aquela conquista contínua e mútua.

Um desfecho para aquela história? Ou seria um começo? A resposta ficou para depois que ela pensasse. Embora agora falassem diariamente, aquele seria o primeiro final de semana que manteriam contato. Resolveram ver-se no sábado. Um cinema? Um jantar? Qualquer desculpa. Queriam estar juntos.


...Continua